quinta-feira, 2 de julho de 2009

ALFABETU KABUVERDIANU II

Bem, começo por dizer nesta última opinião sobre o ALFABETU KABUVERDIANU que para um caboverdeano lúcido, ele sabe perfeitamente que o ALUPEC não é uma língua, muito menos o Badio e que a sua oficialização não vai extinguir ou desoficializar português da nossa sociedade. Todos sabemos que com o ensino decadente do português que temos, a oficialização do crioulo sem as devidas precauções, vai ser uma ameaça ao português para as futuras gerações em Cabo Verde. O ALUPEC é uma “casta” do alfabeto criado supostamente para a escrita da língua caboverdeana e que devido às suas limitações não é aceite pela sociedade caboverdeana. Também sabemos que o “k” é filho de Deus como qualquer outra letra no mundo assim como o β(beta), π(pi), Ω(ómega) etc e que qualquer alfabeto no mundo pode receitar a vitamina C ou escrever os símbolos químicos. Os “sientistas” caboverdeanos disseram que o ALUPEC é o único modelo de alfabeto estruturado para a escrita de qualquer variante, isto é, os variantes de Santo Antão à Brava e até falaram na sua economia, para mim isto não é nenhuma revelação porque todos nós sabemos que o Alfabeto Português faz exactamente as mesmas coisas. Até aqui o ALUPEC não traz nada de novo e continuo a perguntar para quê escrever o português com “k” e “s”, fingindo que estão a escrever o crioulo? Digo isso porque nos textos que ja li escritos no ALUPEC, estão gramaticalmente estruturados em português, isto é, estão lá o português chapadinho, camuflado com “k” e “s”, o que não traduz o pensamento crioulo. Além disso, trás certas palavras que nem o meu pai utilizou, neste caso a palavra “pabia”. Desafio publicamente qualquer santiaguense (digo isso por achar que a expressão é típica da ilha de Santiago) da década de 80 a dizer se alguma vez ele(a) utilizou ou utiliza esta palavra no seu dia-a-dia. Se realmente os defensores do ALUPEC sonham em fazer a tal ponte referido com as outras ilhas, deveriam perceber que a língua evolui e não devem regredir para escrever no tal alfabeto.

São um conjunto de argumentos ardilosos que os defensores do ALUPEC utilizam para impor esta “casta” do alfabeto que eles criaram. Fizeram propagandas em todos os meios sociais e não explicaram aos caboverdeanos que este assunto não diz respeito só a esses grupos que se julgam senhores dos nossos destinos mas sim a todos os caboverdeanos. Portanto, não é preciso só os 2/3 dos deputados mas sim um consentimento de 2/3 da população, com um referendo e devidas informações prévias para toda a camada social sobre o assunto. Só assim os caboverdeanos terão condições de livremente decidirem usar ou não o ALUPEC como o modelo para a escrita do crioulo caboverdeano.
Fizeram propagandas em entrevistas, nos “ensaios”, nos programas, nas reuniões etc e esqueceram de dizer aos caboverdeanos que o ALUPEC:

  1. Apresenta ambiguidade. Onde já se viu um alfabeto onde o “c” tem som de “k” em que as pessoas serão livres de escrever os respectivos nomes com C (Cabral) ou com K (Kabral). Se temos nove variantes, em qual delas vai ser escrito os livros ou a nossa constituição e os boletins oficiais para poderem ser ensinados livremente nas escolas? Numa altura em que reclamamos que o Ministério da Cultura não tem nenhuma capacidade para realizar as actividades x ou y devido a uma expectativa muito grande em matéria da cultura, este mesmo ministério tema capacidade de cobrir toda a matéria em questão do ALUPEC. Ambíguo ou suspeito? A isso chamo capricho dos “sientistas”;
  2. Argumentos tretas. Eu sou um patriota e defensor do crioulo. Falo crioulo de Santiago, de Maio e um pouco de Fogo e São Vicente, percebendo bem os restantes de todas as ilhas. O facto de eu não simpatizar-me com o ALUPEC por não achá-lo adequado para a escrita do crioulo, não implica a minha falta de ética ou algum sentido de patriotismo. Se o caboverdeano não sentiu libertado com a implementação da democracia nos anos 90, não é o ALUPEC que nos vai libertar desta jaula. Sempre sentimos culturalmente independente de qualquer outra nação e somos falantes do crioulo e português, o facto de o crioulo não ser oficial não tira liberdade a ninguém;
  3. Extrapolações exageradas. Todos nós sabemos nunca haverá uma uniformização fechada quanto a um qualquer alfabeto porque a língua é viva (excepto o latim que é considerado uma língua morta). Por isso em momento algum devemos comparar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa com o ALUPEC porque são duas realidades distintas. No Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não se estabeleceu nenhuma suposta ponte de ligação entre os países falantes do Português, apresentaram propostas concretas para um acordo ortográfico com um prévio estudo dos cientistas. Não fizeram propagandas dos estudos dos “sientistas” e nem foi imposta;
  4. • Demagogia paranóica. Além das várias suposições (não apresentaram os estudos) em torno das variantes e suas influências na padronização do crioulo de Cabo Verde, andam a confundir língua caboverdeana com a identidade e valorização do património material e imaterial da Cidade Velha. Parece que ainda não compreenderam que todos amamos o crioulo das ilhas de Santo Antão à Brava, o problema é que nem todos gostam do ALUPEC e que este facto não tem nada a ver com a nossa identidade e muito menos com o património material e imaterial da Cidade Velha;
  5. • Mal-entendido. Não é só o barlavento que se reserva em matéria de oficialização do ALUPEC, é o sotavento também. Todos nós gostaríamos de ter o crioulo padronizado e oficializado ao seu tempo e da forma adequada. O que não queremos é a oficialização do ALUPEC que não identifica e nem é digno de ser considerado um instrumento para a escrita do crioulo caboverdeano. Agora eu pergunto, oficializar para padronizar ou padronizar para oficializar? O facto de não haver ainda um alfabeto alternativo ao ALUPEC não lhe dá o direito e nem a legitimidade de ser considerado ALFABETO CABOVERDEANO.

8 comentários:

Anónimo disse...

Nho, kaminhu ta fazedu e di pé postu! Kauverdianus dja ka pode spera mas pa NINGEN!
Nos e li me ki nu sta. Un shake randis di Kv

http://kauverdianu.blogspot.com/ disse...

Karu Blogger,
Komu nho disafia "Além disso, trás certas palavras que nem o meu pai utilizou, neste caso a palavra “pabia”. Além disso, trás certas palavras que nem o meu pai utilizou, neste caso a palavra “pabia”. Desafio publicamente qualquer santiaguense ... " Mi N ka e santiagensi, ma komu alfabetu Kauverdianu e pa skrebe lingua ki ta papiadu na Kauverdi, na Fogu ten un palavra identiku i el ta ben nes frazi lapidar "PASBIA DI SANTU BU TA NBEJA PEDRA". Ago, N ta informa Mr.Vadaz ma es termu "PABIA" sta rajistadu na obra leksikografiku di Armando Napoleão R. Fernandes: pabia, sot. (por via) porquê, imca sabê pabia, não sei porquê; frse, tudo kusa tem pabia, de tudo há motivo porquê; Bar. pavia". Juventudi ka ta uza-l oji pamodi e un arkaismu... Não sei se lhe digo mais... Et

mrvadaz disse...

Caro Et,

Antes de mais muito obrigado pelo seu comentário. Fico agradecido por saber que no fogo também utilizam esta palavra (Pabia). Não sei se perceberes mas com o seu comentário, reforçaste a minha ideia. Portanto nem no Fogo e nem na ilha do Santiago utilizam esta palavra no dia-a-dia. Porquê obrigar as pessoas a utilizarem as palavras que já entraram em desuso? É um dos males do ALUPEC? Não acho mas convém sejamos um pouco mais sensato.

mrvadaz

http://kauverdianu.blogspot.com/ disse...

Já que se dignou a responder... na ta papia Kauverdianu kada falanti - di Santantan te txiga djabraba -ta skodje livrimenti palavras/spresons pa el uza na se diskursu (oral o skritu), dentu di limiti sosialmeti kuretu. sobri isu sertamenti nho ka ten duvida. Na Fogu nu ta uza txeu bes es palavra PASBIA, uzu korenti (forma funetiku prosimu di PABIA), ku sentidu di "por tua causa e só por tua causa eu...". Et

mrvadaz disse...

Caro Et,

Humildemente passei pelo blog que me endereçaste li e percebi, como sou novo na matéria garanto-lhe que vou-me aprendendo. O senhor sabe qual é a minha posição, não sou e nunca vou ser contra a oficialização do crioulo, só não concordo com a maneira em que as coisas foram posta. Não sou "Katxor di dos pé" e nem o "ajenti di kolonialista" por causa disto pois não? Se fores aos nossos arquivos encontras um poema que eu fiz e eu garanto-lhe que as coisas mais profundas que alguma vez escrevi estão escritos no crioulo. Mais uma vez agradeço a sua participação e contribuição para os meus esclarecimentos, se aqueles que estão a fazer certos "ensaius" e "debates" online tivessem a metade da sua humildade, estaríamos muito longe na questão da oficialização da nossa língua materna. Também vais dar-me a razão quando afirmo que é preciso esclarecer as coisas e vamos ter de aceitar sem a imposição.

Cumprimentos,

Et disse...

Eu tenho lido e sempre com alguma atenção as diversas opiniões que tem sido publicadas nos jornais em formato digital e em papel, isto para me informar... tenho acompanhado o processo de Oficialização da escrita da Língua Caboverdiana. Sempre por fora. Mi e fidju di fora!
Tenho lido também os artigos que tem publicado no blog seu e no Liberal, sobretudo nas entrelinhas... concluo, a sua posição relativamente a esse tema/assunto é sima agu di laxidu!
Já agora aceite tb os meus cumprimentos de Cabo Verde.Et

PS: Aquelas palavras entre aspas são dos incendiários...e nunca as sublinho.

mrvadaz disse...

Caro Et,

Confesso-te que não percebi em que sentido usaste a expressão "sima agu di laxidu" e não vou querer correr o risco de lhe interpretar mal. Na minha zona na ilha do Santiago esta expressão tem diversos significados, pelo que pergunto o porquê de como "agu di laxidu".

Atenciosamente,

mrvadaz disse...

Karu Et,

Oxi pa purmeru bes nsta ben mostrau nha doti di kriolu. Bu ten razon na fla ma lê é ka nada, ami també nta konkorda pamodi ka ta inportan ten biblioteka mas sin sabi konteúdu di biblioteka. Kombersa ou papia ku nhô é interesanti pamodi pon ta peskisa un senas ki nka sabia. Nha kriolu dxa komesa fika portuuesadu (hehehe), mas é normal. Ami tb nta studa kriolu, sima nflaba nta volta a ripiti, nunka nfoi y nen nka ta ser kontra kriolu nunka mas sin nka ta konkorda ku polítika di ALUPEC, só isu. A seriu k nka staba ta ntendi kusé k bu kria fla ma nta papia un kriolu..., sen bai pa detalhis nkre flau ma mi nten konsiensia ma existi 9 varianti di nos kriolu y ken sabi ta bai ser 10 ora ki nleba nha familias pa la.

Na medida ki " Sampe ka ta anda ku sabarku", nkre fla nho ma "SAMPÉ KA TA SALTA KAMINHU GRANDI".

Enfin nkre fla nho ma nfika kontenti pamodi nhu ter aseitadu nha disafiu y fla nho també me ku humildadi ki nu ta prendi ma:

.Sen pé pari ku pé, ku pé pari sen pé;
.Surupu n'apu;
Uás-uás kan-kan rabu tan;
.N'ó-n'ó ou maran'anha ku dxágui-dxágui;
.Txuba na mar, simentera na tera;

Y por últimu nta flau: "Antis di sol kanba bai na pé di nburla bu koba, tra tres padaz di raiz pa nascer di sol y tres padás di raís pa kambar di sol. Bai na matu babosa bu kebra un rabu na mó y otu na txon, ti ki dá seti na mó y seti na txon, panha tres karós di bosta mula bu mustura y fasi un fumador. Fuma kantu di kasa y bu poi un ponta sinsa baxu kalbesera kama, ninhun fitisera ou finadu ou alga-rixu ta meteu ku bu familias"

Keli é un pikenu rilatu di un konhesidu na nha zona, tb rilatu sta inkompletu, na otu ora nta mostrau el mas ilaboradu! Enfin nta spera ma nha textu ka ta foi xatu pa bu lê.

Aseita un abrasu ku alma Kabuverdianu di,

MRVADAZ